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Mostra reúne diferentes arquitetos para instalações físicas, adaptadas ao distanciamento social, com projetos também em Paraisópolis e Brasilândia

Num ano em que as casas foram fechadas para o que vinha de fora e se tornaram muito mais abertas para as relações construídas entre os moradores, as janelas surgem como portal para ver o mundo de forma criativa no projeto Janelas Casacor.

A exposição física, com instalações em mais de 20 pontos da cidade, e também digital, com tour virtual disponível na internet, materializou questionamentos pós-pandemia, como hábitos, necessidades e transformações nos lares em decorrência da quarentena.

Como o maior desafio na organização da mostra, Livia Pedreira, diretora superintende da Casacor, aponta o trabalho on-line a fim de estruturar algo físico. “Coordenar desde o convite ao profissional, a rede de patrocinadores e fornecedores, a montagem dos contêineres, seguindo protocolos rígidos de segurança, foi uma tarefa que sem uma equipe muito experiente nós não conseguiríamos realizar”, ressalta.

O diferencial no projeto estreante compreende a ocupação de áreas públicas em diferentes bairros, visto que o evento original é realizado tradicionalmente no Jockey Club de São Paulo. “A gente queria muito fazer algo que fosse além do digital, propiciar a experiência física, que é o DNA da Casacor.”

Um exemplo desse ineditismo é a instalação “Cozinha Comunitária”, fruto do trabalho de alunos e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que projetaram a estrutura de uma cozinha no estacionamento do Sacolão Municipal da Freguesia do Ó, na região da Brasilândia, extremo norte da cidade.

Perspectiva do projeto idealizado por alunos e professores do Mackenzie. Foto: Divulgação/FAU+D Acolhe

O contêiner, planejado de forma sustentável e com estrutura de bambu, levou cerca de um mês para ficar pronto, entre projeto e montagem, sendo doado ao centro comunitário do bairro Tiro ao Pombo, para que receba atividades e eventos desenvolvidos pelos moradores.

A estrutura em deck com cobertura de bambu receberá programação com atividades organizadas pela comunidade. Foto: Divulgação/Casacor

Rodrigo Loeb, professor de arquitetura e doutorando na pós-graduação do Mackenzie, coordena o projeto que integra o programa de extensão da universidade e ressalta a importância de iniciativas como essa nas instituições de ensino, que promovem maior interação com o campo social – a comunidade; o público – a prefeitura regional; e o privado – as marcas parceiras e apoiadores.

“O projeto abre infinitas possibilidades de atuação em locais que demandam iniciativas como essa. A pandemia só escancarou uma situação que já estava posta nas cidades”, destaca Loeb. O professor lembra ainda que comunidades que demandam políticas públicas mais efetivas não estão concentradas apenas na periferia ou em bairros afastados da capital e, sim, mais próximas do que o imaginado, citando a Favela do Moinho e a região da Cracolândia, no Centro.

O Jardim Colombo, no complexo de Paraisópolis, é outro bairro fora da curva que recebeu uma galeria de arte duradoura, idealizada pelas arquitetas Ester Carro e Veronica Vacaro, com paisagismo do escritório Plantar Ideias. A instalação na entrada do bairro também foi doada à comunidade, a fim de receber exposições locais.

A produção de arte do bairro Jardim Colombo ganha a “Galeria Fazendinhando”, para uso da comunidade. Foto: Leka Mendes/Divulgação Casacor

“Não dá para fechar os olhos para essa realidade social que é tão desigual. Quando a gente rompe com o modelo tradicional do evento, na verdade a Casacor está mudando a sua chave, fazendo um evento totalmente gratuito, inclusivo e democrático”, explica Pedreira, ao lembrar que a escolha das instalações teve participação de líderes comunitários locais, para apontar as reais necessidades dos moradores.

O essencial ganha destaque

Nomes já conhecidos na Casacor e escalados para a edição que ocorreria este ano foram convidados a assinar o projeto Janelas, desenvolvendo instalações que ressaltam a mudança de perspectiva em espaços comuns.

Brunete Fraccaroli, fã das cores e de escopos vívidos, surpreende ao escolher um ambiente totalmente branco, que integra living e cozinha, nomeado “Simplicidade”. Quem dá o tom na instalação são as plantas, tão incluídas nos lares durante a quarentena.

O detalhe fica por conta dos face shields suspensos, como lustres, adaptando a realidade do distanciamento social para o projeto. Foto: Leka Mendes/Divulgação Casacor

Já João Armentano assina o contêiner “Pra Quê Mais?”, com uma instalação prática e compacta, que permeia os ambientes integrados do que poderia ser muito bem um loft ou studio, ressaltando apenas o que é essencial.

No detalhe, o sofá curvo revestido com veludo vermelho compõe a sala de estar. Foto: Salvador Cordaro/Divulgação Casacor
Em um espaço com cerca de 4 metros, o arquiteto traduziu praticidade em um ambiente que integra cozinha, sala e quarto. Foto: Salvador Cordaro/Divulgação Casacor

O arquiteto Fernando Brandão reúne três modelos de um dos pilares desta quarentena, o home office, ilustrando a necessidade de modificar cômodos ou adaptar o escritório em ambientes compactos.

O detalhe da instalação “ETC” é o elefante grafitado na parede pelo artista plástico Carlos Matuck. Foto: Salvador Cordaro/Divulgação Casacor

Com mais tempo em casa, a cozinha se tornou um dos ambientes mais importantes para a família. Levantamento de junho deste ano, feito pela empresa inglesa GlobalWebIndex em 17 países, mostrou que um terço dos brasileiros passou a cozinhar desde o início da quarentena.

Para o espaço “Tempero da Vida”, a arquiteta Érica Salguero contrapõe tecnologia e elementos naturais, utilizando uma TV na cozinha, uma horta caseira e objetos de cerâmica. 

A madeira como revestimento da cozinha guia o tom da decoração. Foto: Salvador Cordaro/Divulgação Casacor

Outra instalação resgata um ambiente da casa já esquecido na hora da decoração. Repaginado, o hall retorna no projeto “Espaço Sagrado”, de Claudia Alionis, como área importante de higiene antes de circular pelo restante da casa. Ao lado, uma copa serve como apoio para a higienização de alimentos.

O espaço de cuidado, agora tão necessário nas residências, tem as paredes revestidas por mármore travertino bruto. Foto: Salvador Cordaro/ Divulgação Casacor

Além de São Paulo, o projeto Janelas abrange mais nove cidades, como Ribeirão Preto, Espírito Santo, Minas Gerais e Brasília. Para conferir os detalhes da mostra, acesse o tour virtual de cada instalação no site da Casacor.


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